sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Cidade Sonora


Eu estava tentando dormir num dia desses e fiquei prestando atenção na chuva. Me concentrei verdadeiramente e com todas as minhas forças a ouvir apenas o som dela.
A chuva parece tilintar ao bater no chão, como se existissem vários, milhares de homenzinhos tamborilando mesas; ou como se trocentas tachinhas caíssem insistentemente. O som da chuva é reconfortante e hipnotizante.Nada mais justo do que um som próprio da natureza tornar-se canção de ninar.É mais do que coerente que consigamos nos sentir confortáveis com o barulho da água, já que "passamos 9 meses protegidos dentro dela".
É uma pena que em São Paulo não se consiga apreciar o som da chuva com toda a dedicação possível, porque ao tentar aguçar seu ouvido para captar melhor determinado som, você capta outros fora dos seus planos.Ao tentar construir uma placa protetora nos meus ouvidos, deixando que só o som da chuva entrasse, sons de carros entravam sem permissão e inevitavelmente. Moro em frente a uma rodovia e só percebi que minha rua não é tão calma quanto parecia quando agucei os ouvidos nessa noite. Acho que eu estava acostumada com o som e não me dava conta dele, mas quando fiz isso, percebi que o tempo todo há um som aspero lá fora, como se uma espacionave sobrevoasse a região 24hrs, mas muito, muito distante. É um som que poderia até ser usado num daqueles sons do I-doser, por ser muito parecido. (Sim, ja ouvi I-doser).
Ao perceber essa característica de São Paulo, descobri o quanto sinto a falta do silêncio total. O quanto não estou acostumada a ele e o quanto gostaria de estar. Percebi o quanto aperfeiçoei minha incessante vontade de morar num campo. Na minha opinião, o ouvido do ser humano foi feito pra apreciar os sons naturais a princípio,, pois se não existisse alguém pra apreciá-los, então qual seria a graça de sua existência? Mas nós ouvimos o som da natureza? Não só não ouvimos, como também não a percebemos e muitas vezes nem sequer a valorizamos.Quando penso em São Paulo, me vem a cor cinza em mente; um dia chuvoso com o céu nublado; substâncias prejudiciais que não deveriam existir flutuando no ar e poluindo nossos pulmões, incapacitando uma perfeita respiração; e claro, o som aspero de carros passando com velocidade no asfalto. Tento achar um motivo pra gostar de São Paulo, mas realmente não consigo achar.
Podem me classificar como uma ingrata por não gostar da minha cidade natal, mas cada um tem suas necessidades. E não tento persuadir as pessoas que daqui gostam apontando as características que classifico como ruins. Apenas aceito e fico feliz por uma pessoa se encaixar num lugar como este e se adaptar facilmente. Não digo que não sou adaptada... tanto sou que só fui perceber esse lugar ínfimo aos 15 anos.

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